Ontem, na abertura de um filme, eu vi esta frase: “Você é uma pessoa bem insensata se não conseguir compreender que a fé sem atos de nada vale.” Algo retirado do Evangelho de Tiago que diz que a fé sem atos é morta. E fiquei pensando sobre isso. Me considero, antes de pertencer a qualquer religião, uma pessoa espiritualizada. E por espiritualizada, quero dizer alguém que crê que somos mais do que meros corpos de carne vagando pela terra. Creio que somos seres com alma, espírito, com um sopro, uma energia, uma sincronia, que nos une aos demais. E não somente aos demais humanos, mas a todos os seres, ar, água, montanhas, estrelas, poeira, mares, pássaros, peixes, enfim, deu pra entender. Acho que somos parte de uma grande soma, de uma grande equação que não respira sozinha. Nada pulsa sem interconexão. É aquela história do efeito borboleta, aquela teoria analisada pela primeira vez em 1963, por Edward Lorens, que diz que o bater de asas de uma simples borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez, provocar um tufão do outro lado do mundo. Pra quem não viu o filme, tá aí uma dica. Só procurar “Efeito Borboleta” no Youtube e assistir. Mas, voltando à frase inicial, o que eu fiquei a pensar foi que, de fato, não adianta termos fé, ou termos uma teoria da fé, se nesta não houver atos, isto é, a prática daquilo em que acreditamos. Não adianta crer em benevolência e chutar um cão vadio que se aproxima. Não adianta crer em generosidade e não levar uma sopa ao mendigo da esquina num dia frio. Não adianta eu, teoricamente, defender os pobres e a desigualdade no Facebook e tratar mal uma atendente ou a querer excluir da vida de minha filha um rapaz por sua condição sócio-econômica ou por sua raça. O que percebo é que não adianta dizermos que somos espiritualizados se, no dia-a-dia da vida, nos passos cotidianos, agimos de maneira diferente – ou mesmo – indiferente – àquilo em que dizemos crer. De palavras o mundo está cheio. E olha que ao dizer isso eu posso estar me voltando contra mim, que sou escritora e que trabalho com palavras. Mas acho que usar as palavras – como neste texto – para nos fazer refletir sobre a fé e a necessidade desta se realizar através dos atos, já é uma ação em si. Posso estar errada. Sempre podemos, dependendo do ponto de vista. Mas o fato é que eu senti vontade de externalizar os pensamentos que me vieram à mente a partir daquela frase. Palavras que me fizeram refletir sobre o quanto eu também estou deixando de agir no mundo, na prática, na realidade. Uma amiga, esses dias, fez uma proposta ao grupo para que, neste natal próximo, em vez de nosso encontro usual de amigo-oculto, que fôssemos todos a uma instituição de caridade e que doássemos lá nossa alegria, nossa energia, nosso tempo. Em vez de uma confraternização fechada, um encontro com o outro. É claro que sabemos que um dia apenas é muito pouco. Mas um dia é um passo. Um primeiro passo. Que, quem sabe, não possa a vir a ser o primeiro de muitos? A vida toda começa num só gesto. Num só pulso. Há pequenos começos que podem se tornar grandes e imensos fins…