Você termina uma relação. Você não entendia o amor da pessoa que tanto te amava. E ela não entendia o seu “não-entender”. Você tinha crises de ciúmes. Você era a sua própria insegurança. Tudo porque o seu coração, que não te amava, não podia acreditar que alguém poderia te amar. E você pôs tudo a perder. Fez de qualquer brinde um caos. Fez de qualquer sorriso uma ameaça. Desconfiar era a sua prevenção.
Sem saber se amar, você não soube se deixar amar. Principalmente porque a pessoa de onde partia esse amor parecia ser mais do que você poderia desejar. Então, você se colocou por cima por se achar por baixo. E passou a se alimentar do pão mofado do seu próprio desamor. Você se frustrou. “-Por que diabos essa pessoa iria querer estar ao meu lado?” E assim, com essa pergunta, você a frustrou também. E a pessoa do outro lado passou a ter que te amar por vocês dois. Ela teve que te amar por ela e por você, que não sabia se amar.
Intrigado com aquele esforço do amor, você começou a temer. Você não valia aquele esforço todo, valia? Você jurava que não. Ela jurava que sim. E vocês passaram a não mais se entender. Você se invalidou e invalidou o amor da outra pessoa. Você pôs água em sua relação de açúcar e a viu dissolver. Você não acreditava que alguém poderia te amar. Intrigado, você se plantou intrigas. E se afundou no dogma de que a outra pessoa era muito melhor que você. E saber disso era o seu único trunfo. A outra pessoa parecia não saber. Não é que ela não soubesse. É que ela apenas tinha uma opinião contrária à sua. É que ela, ao contrário de você, te achava tanto quanto ela. Mas você não entendia. Ela te amava, ora, que porcaria?! Você não merecia toda essa humilhação!
Então, o sadismo se despertou em você. E você começou a brincar de fazer a pessoa seu boneco de vodu. Uma a uma, enfiou agulhas em seu peito. E ao feri-la, feriu mais a você. O boneco “dela” que você feria era o seu. Você era o seu próprio algoz. Até que a pessoa que você tanto amava se machucou de verdade. E entendeu que não se pode amar quem não se deixa. Então, ela, pelo amor que tinha a você, respeitou a sua decisão. E decidiu deixá-lo. Finalmente, você conseguiu provar que estava certo. Conseguiu provar que a tal pessoa não te amava o bastante. Mas, na verdade, você só provou seu próprio erro. E errou por achar que, por não saber se amar, ninguém mais saberia. E, como queria, você ficou só, por sua conta e risco.
Você não soube entender a irracional razão do amor. E, no fundo, ficou sem nada pra entender. E hoje, obviamente, a pessoa que você feriu e que você perdeu, senta-se, por acaso, numa mesa de bar, ao lado da sua, com um novo amor. Agora, sim, você se convence. Agora, sim, tudo faz sentido. O novo amor da sua ex-pessoa parece ser muito melhor que você. E você, então, confirma a sua tese de que não estava à altura dela. Confirma a sua tese de que ela tinha condições de encontrar alguém melhor do que você para amar.
A única coisa que você não confirma é a legenda daquele olhar pesaroso com o qual a sua ex-pessoa te olha. Com a sua inaptidão habitual para se amar, você presume que esse olhar é de pena de você. E você acertou, em parte. O olhar é de pena, sim. Mas não pena “de você”. Mas de pena por pensar que, se não fosse “por você”, única e exclusivamente por você, vocês agora poderiam estar dividindo a mesma mesa de bar.