Meu desejo é raio íntimo, convulso. Faz meu querer me rasgar a roupa e subir nua à cobertura pra passear aos olhares e ao sol. Tenho vergonhas por fora e ardências por dentro. Coço a volúpia que me coça com força. Essa coceira de dentro que me não me larga a mão. Esses ímpetos e ralos pra onde escorrem águas canalhas tão sujas que só lavam pra poluir pensamentos. Minha cabeça, em sua capa de quitina, esconde meus caramujos. Rastejo definitiva, grossa, devassando minha cômoda paixão que fornica como formigas – incessantes no meu formigueiro de ideias. É uma alergia alegre, coletiva. São todos os personagens que me habitam num salão oval, numa mesa que se reflete em espelhos e em corpos emaranhados… Ao encontrar meu olhar refletido, me assusto com meu desamparo, minha indevassável fronteira ultrapassada. É crime, mas dentro de mim é permitido permitir! Permito-me! Submeto-me a brincadeiras de adulto pra perder suor. Só faço isso por prazer, hobbie e vontade… No final de minhas orgias únicas, inauguro-me. Sou fantasia, folclore, crendice popular. Se posso ser onde posso, ali, então, eu serei o que posso! Nos meus despojos, guardo os restos que me sobram… Minhas sobras gostam de pensar… E eu gosto de pensar-me devorando, devorando-me… Gosto de sangrar-me e gosto de gostar do que gosto. Tarântula! Com boas bofetadas nos olhos cheios de vida, ultrapasso o incômodo da opinião alheia. No escondido do por dentro não se mancha a tradição, o recato. No raio do íntimo não há hipocrisias. Somente eu e meu mais sórdido humano eu.
*Foto: Ganapathy Kumar.