Segundo a segundo nos abarrotamos com notícias irrelevantes sobre tudo. Tudo para termos a sensação de estarmos “participando”. Mas participando de quê? Da notícia de uma bomba no Iraque? Da dor da “vizinha” do Acre que perdeu a filha num jogo de cartas? Do luto de um amigo de um amigo que nos adicionou no face há anos sem que tenhamos trocado qualquer palavra?
Fingimos chorar a dor dos outros, dos de longe, que é para não termos que viver a nossa. Assim é melhor. Viver de longe é sempre melhor. O que a vida dos outros tem a ver conosco? Nada. E mesmo assim, tudo. Tudo porque precisamos estar sempre com-par-ti-lhan-do. Nossas novidades, nossas fotos, nossas refeições diárias, nossas viagens, nossas… Hoje em dia, para nos tornarmos esquecidos ou “caretinhas tradicionais” basta sermos o mesmo por dois dias seguidos, isto é, basta não alterarmos nossa foto de entrada nas redes sociais a cada 24 horas. E isso é muuuuuiiiito fora de moda! Manter amigos, relações, elos reais? Mas que coisa mais reacionária. É ridículo esse seu conservadorismo, sabia?! Não precisa falar mais nada. Nós já sabemos, ok?! Já sabemos que somos todos cadáveres ambulantes e, justamente por isso, é que fingimos tão bem viver a vida virtualmente: por acharmos que nossos personagens virtuais estão imunes à morte pelo anonimato.
Assim, seguimos a vida, nos dando um novo look e nos tornando nossos próprios tamagotchis. Só que, em vez de um bichinho que alimentamos virtualmente, alimentamos os feeds de notícias de nossos próprios personagens virtuais. Ai, como a vida é bela por trás dos filtros do photoshop… E assim continuamos – afinal, the show must go on – sinalizando nossos sorrisos nas fotos, mas nunca postando qualquer lágrima para o público. Imagine só, para tragédias já bastam as manchetes sangrentas dos jornais…
Felicidade autêntica? Como iremos encontrá-la se ninguém mais se encontra consigo? Se ninguém mais sabe viver de verdade? Se ninguém mais se reconhece por mais de um dia sem um celular na frente do espelho? Não, agora para ser um humano real, só sendo virtual. O resto – essa coisa chamada vida – são virtualidades existenciais banais. Ai, essa vida… Todos fugindo do anonimato pelo mesmo caminho, pela mesma fórmula desgastada e big brotheriada que nos sujeita a não sermos de verdade para podermos ser. Como se todos pudéssemos nos tornar conhecidos por nos desconhecer.
Ai, humanos… Somos tão idiotas. Pensamos estar fugindo da morte do anonimato quando, em verdade, estamos só nos refugiando de nós em algum lugar muito longe da vida.
Foto de: Lee Aik Soon