Às vezes meu peito aperta. Que pena a primeira vez ser sempre a última. A primeira última vez do primeiro beijo. A primeira última vez do primeiro amor. A primeira vez do primeiro dia do resto de nossas vidas. Mas, logo depois dessa nostalgiazinha gostosa, eu já me redimo. E penso que todos os dias nascem novas primeiras vezes. Pois nós renascemos a cada dia. Eu não sou a mesma dos oito anos, nem dos quinze, nem dos vinte e um. Eu já fui tantas e tantas vezes eu fui uma primeira vez. Lembro da primeira vez que estive em Lisboa. E, depois de oito anos, ali eu estive novamente. Redescobrindo-a. Era como se a cidade tivesse renascido, pois, na verdade, eu era outra. Eu era a primeira vez da segunda vez. E assim por diante. Quantas e quantas vezes eu revisito os mesmos livros, os mesmos filmes, as mesmas músicas e acabo descobrindo ali um aspecto, um detalhe, uma nova palavra que havia passado despercebida, pois, naquela outra primeira vez, meus olhos buscavam coisas que minha primeira vez de hoje já não busca, pois que já estão encontradas. Assim, se todos os dias eu abro a mesma porta, nunca serei eu a mesma pessoa a passar por ela, de modo que uma mesma porta nunca será a mesma. Porque a primeira vez de cada coisa mora dentro de nós. Nós somos sempre as primeiras infinitas vezes pelo resto de nossas vidas.
Crédito da foto: Nathan Dumlao.