Eu trafego por ruas que cheiram à pêra fresca… Rodo noites e noites. Inteiras. Por curvas perfeitas… Vou e volto. Sigo as placas do meu sonho. Derrapo nos retornos dos seus cantos e nos cantos dos seus lábios. Acelero nas linhas dos seus sorrisos e freio, bruscamente, numa parada obrigatória de olhares. Continuo seguindo como se cada milímetro do seu mapa fosse um quilômetro do meu paraíso… Desvendo a sua estrada da perdição. Respeito as indicações do meu inconsciente para perder-me, conscientemente, nos atalhos de sua pele. Entro e saio de túneis que escondem, em sua escuridão, todo segredo de um silente gemido. Atravesso suas pontes, visito seus pontos turísticos e refresco-me em suas pintas. Voo sobre suas ladeiras. Acho-me, perco-me. Quão incessante o transitar… Quando menos espero, sou rapidamente ultrapassada, pela direita, por novos desejos. Estou em duas pistas. Sou desejada e desejosa… Luzes atravessam-me como pedestres apressados. Mudo de faixas sem dar seta. Ultrapasso a velocidade permitida. Estaciono minha língua em locais proibidos. Ando a cem por hora na contramão dos seus pelos… Corto suas avenidas principais e passo rente às paredes dos seus becos estreitos. Rodo nos aneis de seus contornos. Cruzo e descruzo seus cruzamentos de pernas. Dou preferência às suas vontades. Deixo-as passar como alegorias fantasiosas num sinal eternamente amarelo. Atenção. Alta Tensão… Pego um desvio. Exploro suas depressões e saliências. Sigo em quinta marcha por suas pistas sinuosas. Desacelero em seus trechos escorregadios. E, quando encurralado numa rua sem saída, tiro o cinto de segurança, desligo o taxímetro, jogo as chaves da razão pela janela e pulo pro banco de trás. Deixo o meu volante para a estrada da Terra e dirijo-me, por suas vias e veias, ao caminho dos céus…