Ontem me peguei fazendo mais um dos 1756 testes do Facebook. Sim, eu também quero saber quem eu seria se eu fosse uma princesa da Disney (por acaso, a Bela), que rosto eu teria se eu fosse homem, com qual artista eu me pareço, etc… Depois de tanto brincar, decidi ir pesquisar sobre as páginas que lançam esses testes. Vocês não imaginam quantos desses quizzes estão nos testando por aí. O teste do “Assim eu sou”, o teste do “Qual é a sua verdadeira personalidade?”, o teste do “A que você não resiste?”, o do “Quantos beijos você já deu em 2018?”, acho deu para sacar… E foi depois de eu ter me depararado com essa infinita gama de testes que são, todos os dias, consumidos por nós, aqui nessa plataforma, que uma pergunta me pegou: de onde será que vem essa necessidade? De onde será que nasce essa vontade de nós sabermos quem nós seríamos se? Será que é mesmo só pela brincadeira que surfamos nessa onda? Ou será que há algo muito mais profundo por trás disso tudo que não queremos enxergar? Porque quando fazemos um teste desses, fora a brincadeira que pode ser super engraçada, estamos, no fundo, buscando descobrir algo sobre nós mesmos. Estamos buscando entender quais características nos apontam para nossos verdadeiros “eus”. Sim, é fato que estamos vivendo uma grande crise de identidade em todo o mundo. A contemporaneidade chegou abalando toda e qualquer estrutura. Todas as tradições estão sendo chacoalhadas. Está tudo ruindo e isso é normal, tá tudo ok. Afinal, assim é a vida, sempre foi, sempre será. Algo fluido, cambiante, vivo. A mudança é um rio que passa e com ele vai transformando a paisagem ao redor. A mudança é a vida e não há nada de mal nisso. Mas tem alguma coisa que parece não estar fluindo bem nesse rio. Alguma coisa parece estar se perdendo nessa passagem. Aparentemente, nós não estamos sabendo encontrar, dentro de nós, a resposta para: quem somos? E talvez daí nasça a necessidade de buscarmos, nos testes de Facebook, alguma dica, por mais delirante que ela seja. E talvez daí nasça a necessidade de eu querer saber que personagem da Marvel eu seria se eu pudesse ser um desenho animado. Sei lá, talvez isso me dê um norte, me mostre algo que eu não sei sobre mim, algo que aponte o caminho para a minha própria essência… É, talvez seja isso que esteja nos impedindo de sermos felizes. Estamos buscando nos testes, nas provas, nas aprovações sociais, nos outros, nos namorados, nas esposas, nos diplomas, nos cargos que assumimos, na casa maior que compramos, na moda que seguimos, algo que nos responda a nossa própria pergunta. Mas a verdade é que quem somos é uma resposta que não está em nenhum desses lugares, em nenhum desses testes que compartilhamos, em nenhuma dessas coisas que compramos, em nenhuma das pessoas com quem nos relacionamos. A resposta para essa pergunta só pode ser encontrada dentro de nós. E talvez seja esse o verdadeiro teste que nós estamos nos recusando a fazer. O teste de quem decide se conhecer de verdade. O teste de quem decide mergulhar em suas próprias profundezas para, finalmente, poder nascer.
*Crédito da Foto: Kyle Glenn.