Uma última vez. O meu olho no teu. O teu calor no meu. A tua respiração sendo o ar dentro dos meus pulmões. Uma última vez o meu toque te prendendo na minha cintura, o teu gesto me trancando no braço das tuas coxas. Uma última vez eu a ovelha perdida, a cruz sem o sofrimento, o gemido sem lamento. Uma última vez a entrega de dois na ardência do querer ser um, a entrega ao desenlace, ao adeus. Uma última vez a saliva na ponta dos dedos, os dedos na ponta dos seios. Uma última vez a boca dentro do beijo, o beijo dentro do sexo, o sexo dentro da alma, a alma dentro daquilo que já era o passado vivenciando os últimos instintos do presente. Uma última vez a presença. Uma última vez o silêncio do amor já terminado, quase resgatado, já desendereçado rumado às ruas dos outros corpos do porvir. Uma última vez nos amamos. Com o furor das despedidas. Quantas vezes? Quantas vezes alguém a dizer adeus?