Às vezes acordamos tristes. Coisas acontecendo. Vazios aparecendo. Mas a vida também é feita de lacunas. Existir também é vazio. Existir também pede que nós abracemos fantasmas… Saber lidar com o que ainda não há. No vazio, o espaço, ao movimento se abre. Do futuro, não sabemos. Mas ele chegará. E o movimento fará, novamente, lá na frente, a gente se reencontrar. Porque se perder é necessário, faz parte da viagem. Vou cavando. Não sei como. Não sei direito pra onde. Vou tentando. Me encontrar, ô tarefinha árdua. Mas me lembro: ‘Deixa a vida vir, me digo. Deixa ela te sentir.’ E ela me toma em seus braços. E meu peito vai se abrindo a percepções quase imperceptíveis…Várias sincronicidades num só dia acontecendo e eu quase deixei de vê-las. Várias vidas me entrando, me encontrando, se envolvendo na minha passagem, colorindo o nublado da minha paisagem. Obrigada, dia. Por ter começado tão cedo. Por ter me mostrado aquela angústia pela manhã. Para que eu pudesse, natural e matinalmente, deixar a vida me acontecer… E o medo do vazio, daquilo que será, do amanhã e de todos os seus caminhos, de todos os seus futuros, foi se transformando, de um monstro assustador, em asas de borboletas que batem possibilidades… E, aos poucos, eu fui perdendo o medo daquele oco. E agora à tarde, no futuro do que foi a manhã, eu pude compreender que não estou só. Nunca estamos. Porque estamos sempre, sem saber, sem querer, mesmo sem nos conhecer, nos compartilhando em sentimentos humanos. É isso o que eu chamo de dádiva. Estar vivo e saber que, dentro de mim, batem todos os corações do mundo…