Te toquei. E na ponta de meus dedos, brotaram azaleias. Tornei-me um espanto. Eu era uma terra de sementes férteis. Um jardim capaz de te tocar o que mora por detrás das falas. E sob meus pés, se abriram novos caminhos, novos mapas, novas buscas. Teu corpo era um relevo de raízes que se espalhavam por meus terrenos profundos. Umidade, calor, vida. Era assim que nossos abraços faziam o amor dos campos santos. Como se na luz restasse nosso sexo, nosso gozo, nossa alegria, nosso enquanto. E nós precisássemos que o ar só o ar fosse para nos amar. No final de tudo, quando a noite chegava e o orvalho da madrugada começava a querer brotar. Eu te salivava as palavras de uma língua desconhecida. Te pedia pra você ser novamente raiz e eu terra. Te pedia para que você, com a pressa dos vegetais que se faz no tempo mais delicado do tempo, me mergulhasse seus dedos. Como se eu fosse a única terra capaz de abrigar as raízes da sua existência. Que você me mergulhasse seus dedos. Cheios dos teus segredos. Profundamente. Aterrados em mim.
Crédito da foto: Alex Iby.