Com sua primeira coletânea de versos, Domingas Alvim se insere na cena da poesia contemporânea com a fabulação poética de um território – O Deserto -, a partir do qual institui um campo de inquirição e de obstinada busca. Para ser mais exato, a poeta cria o deserto enquanto é criada por ele. Inventa-o como possibilidade e instrumento de procura: procura de si, das suas condições de enunciação, de seu leitor, da poesia e da experiência capaz de equacionar (ou quem sabe “lançar”) todos esses “dados” com a vida comum. Gozam ambos, poeta e deserto, de um estatuto incerto, com traços mal ou apenas levemente conformados, como se esboçados na areia.
Nesse terreno de imagens incertas e fugazes, “onda de terra sem a geografía fixa/dos mapas”, a própria escrita se coloca como rastro, sempre fugidio: “arte traçando superfície/ como o ventre de uma serpente/ escrevendo na pele das areias”.
Se a poesia não nos oferece respostas, temos como matéria dos poemas os restos: o pó, a lembrança do pó, o sulco prestes a se apagar no oceano.
Roberto Said,
Professor de Teoria da Literatura na Universidade Federal de Minas Gerais.
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