Por exemplo, você diz algo no Facebook com a maior boa vontade e sem qualquer intenção de que aquilo vire uma polêmica ou um insulto comum. Aí, vem alguém e descobre que aquela sua boa intenção, traduzida em texto, pode conter algum aspecto rancoroso, alguma crítica, alguma coisa que essa tal pessoa leu – e que só ela leu – e que a fez se sentir atacada. Aí, ela subverte toda a mensagem do post e decide ler ali algo que ela já estava lendo dentro de si. E pronto. Pólvora. Fósforo. Perigo: “Senhoras e Senhores, está aberta a temporada de caça!” Começa o circo. A pessoa faz um comentário que te faz se perguntar: “nossa, mas como é que essa pessoa conseguiu entender isso? Nada poderia ser tão oposto ao que eu quis dizer.” Mas é aí que está a encrenca. Entre querer dizer algo e este algo ser entendido como você queria, nossa, há uma distância enorrrme. Porque, felizmente ou infelizmente, não sei ainda, existe um gap, uma falha na comunicação, que é a distância entre quem fala e quem ouve. A distância entre quem escreve e quem lê. Até que as nossas palavras saiam de nós, elas passam pelo ar, pelo teclado e, talvez, nesse processo, haja aí qualquer ruído, qualquer interrupção que faz com que a pessoa do outro lado ouça algo bem diferente do que você falou. Na realidade, a verdade é que as palavras têm pesos e cores muito diferentes para cada um de nós. Cada palavra é um espaço de significado a significar o mundo interno de uma pessoa. Então, se sozinha uma palavra já é um mundo de possibilidades, imagine várias palavras juntas num só texto?! Loucuuuuura! Quando a pessoa escreve, ela diz algo que representa o seu ângulo de visão para aquelas palavras. Já quem lê, entende o texto pelo seu ângulo de visão para as mesmas-outras palavras, ou seja, dois ângulos que parecem estar olhando para lados que muitas vezes não são congruentes. É assim que a vida anda, minha gente. É assim que a humanidade se afoga em seus conflitos. Por conta de significados distintos dados, por cada um de nós, às palavras. E acaba que quem lê é tão construtor da mensagem quanto quem escreve. Assim como quem ouve é tão dono da mensagem quanto quem fala. No fundo, acho que é o meio do caminho. Sempre ele. É aí que nasce a solução para os possíveis conflitos. As pessoas pararem por alguns segundos, respirarem fundo, conterem seus instintos primitivos de ataque e defesa, e ponderarem: “espera, será que antes de atacar eu não poderia fazer ao outro a legítima pergunta”: fulano, o que você quis dizer quando você disse isso?” E explicar: “é que quando você diz isso, eu entendo isso, está correta a minha interpretação?” Aí, sim, iniciaríamos um diálogo em que as partes conseguiriam CON-VERSAR, ou seja, “Versar-Com”, em vez de monologarem aos BERROS de letras capitais, como vejo diariamente no Face. Mas essa paradinha (A paradinhaaaaaa, lembra da Anita?!) é pedir muito. Fazer isso seria perder a fluidez da conversa. Então, é melhor a gente se matar num rio que flui cheio de turbulências, do que tentar dar umas paradinhas para nos certificarmos de que podemos navegar com tranquilidade na comunicação, certo? Certo?!, será? É, é por isso que eu digo que o Facebook virou o meu guru oficial. Porque ele me ensina a perceber o quanto a comunicação humana é falha. E o quanto esta falha é a causa da desarmonia em tantos relacionamentos. É, por mais que se tente, a vida é assim. Não é culpa da ferramenta. Porque ela é neutra, está ali como uma faca está sobre uma mesa. Se a faca será usada para cortar uma cebola ou para matar um homem, essa é uma escolha que está em nossas mãos. No fundo, parece que o Facebook veio para nos revelar, com muita clareza, o quanto ainda precisamos aprender a nos compreender, o quanto precisamos nos trabalhar internamente para funcionarmos no modo da compreensão, em vez de no modo bélico. É, talvez seja isso que nos doa tanto. O fato de o Facebook nos esfregar na cara o quanto nós não sabemos usar nossas palavras como instrumentos construtivos, agregadores e pacificadores. O quanto nós não sabemos usar nossas palavras como pontes, mas como punhais. Enfim, essa foi só uma percepção. E diante da minha colocação, como sempre, você tem alguns caminhos possíveis para seguir:
a) Você pode concordar e abraçar minhas palavras, me deixar um like e um comentário legal, com palavras-pontes.
b) Você pode não entender ou mesmo não concordar com o que eu quis dizer e achar que é melhor simplesmente deixar para lá, sem curtir e sem comentar.
c) Você pode concordar em partes e querer complementar o que eu disse com algo que eu não mencionei e me ensinar a abrir o meu olhar de modo construtivo.
d) Você pode discordar de alguns trechos e concordar com outros me explicando, educadamente (atenção para este advérbio), os pontos de discordância e colocando – mais uma vez educadamente – seus argumentos para que eu possa, ao menos, ter a chance de ponderar e de agregar conhecimento à minha pessoa.
e) Você pode discordar da minha mensagem num primeiro momento, mas depois pensar que talvez seja válido me perguntar o que eu quis dizer quando eu disse isso ou aquilo, só para ter o cuidado de se certificar de que você não está atacando quem está dizendo o mesmo que você, só que usando outras palavras.
f) Você pode encarar minha mensagem com maus olhos e a partir daí me criticar, me xingar, me excluir, enfim, agir com a violência que você desejar, afinal, se tratar mal os demais, se mandá-los àquele lugar etc e tal, faz parte da sua filosofia de vida, ok, aqui você tem esse direito de expressão (e de projeção, afinal, o Facebook é ou não é o melhor lugar para encontrarmos os bodes expiatórios que precisamos para descarregar todas as nossas frustrações? Algo a se pensar…).
g) Você pode simplesmente desistir de ter Facebook e se liberar de ter de ficar lidando com certas pessoas e com certos textos irrelevantes desse povo sem noção – como eu – que fica por aí acreditando que o mundo poderia ser melhor e que o ser humano nasceu para ser feliz, vivenciar o amor e encontrar a sua paz, que povinho mesquinho e sem noção, você diz!
h) Você pode usar, como eu, o Facebook para a sua própria evolução espiritual, sim, porque, nada melhor para o amadurecimento da nossa paciência e tolerância do que estar aqui (mais uma vez, apenas a minha opinião).
i) Nenhuma das respostas anteriores são verdadeiras e você me fez perder tempo lendo esse texto sem sentido, sua idiota de uma figa, quero que você morra, que sua família vá para o inferno, que seu cachorro coma veneno, que seu hamster perca os dois olhos, que seu jardim seja devorado por gafanhotos e que todas as pragas do apocalipse caiam sobre a sua alma!
j) Todas as respostas anteriores são verdadeiras.
k) Há outras respostas que sequer estão neste texto.
l) Cheguei ao final disso tudo com a sensação de que, no fundo no fundo, para nada, sequer para esse texto, há uma só conclusão.
m) de moral da história sem qualquer intenção moralizante: Seja bem-vindo à diversidade humana! Aprenda a conviver ou peça para descer.
Abração.
*Crédito da foto: Ksenia Makagonov.